Um lamento raivoso que vinha de não sei onde, por não sei qual razão.
Diariamente tomando pequenas doses de você como um viciado. Um veneno doce, silencioso, que cada vez mais espalhava a chuva como efeito. Eu injetei, sim, um amor ilusório, acreditando que era a tua mão que cravava a seringa. Irremediável.
Mas que tolo fui ao perceber que eram os meus dedos ali o tempo todo.
Acreditei que a abstinência havia apenas começado, mas antes que desse por mim, olhei para trás e vi os longos meses que chorei tua ausência sozinho. Apaguei as fotos como se quebrasse parte por parte da minha alma, como uma boneca russa. Pouco a pouco voltando ao meu eu solitário, com lágrimas que seguram o peso do mundo todo.
“Meu mundo era nossa casa.”
O soco no estômago com que a falta da droga me presenteou, trouxe um gosto amargo até minha boca. Lamentei patético a ânsia que pensar na possibilidade me causou. Eu não sou perfeito afinal. Eu sinto inveja de seu novo usuário. Ossos do ofício.
Sou só um escritor cheio de raiva.
E de amor.
E de vazio. Mas temporário.