segunda-feira, agosto 3

A Chuva

A tempestade dentro de mim trovoava cada vez mais.
Um lamento raivoso que vinha de não sei onde, por não sei qual razão.
Diariamente tomando pequenas doses de você como um viciado. Um veneno doce, silencioso, que cada vez mais espalhava a chuva como efeito. Eu injetei, sim, um amor ilusório, acreditando que era a tua mão que cravava a seringa. Irremediável.
Mas que tolo fui ao perceber que eram os meus dedos ali o tempo todo.
Acreditei que a abstinência havia apenas começado, mas antes que desse por mim, olhei para trás e vi os longos meses que chorei tua ausência sozinho. Apaguei as fotos como se quebrasse parte por parte da minha alma, como uma boneca russa. Pouco a pouco voltando ao meu eu solitário, com lágrimas que seguram o peso do mundo todo. 

“Meu mundo era nossa casa.”

O soco no estômago com que a falta da droga me presenteou, trouxe um gosto amargo até minha boca. Lamentei patético a ânsia que pensar na possibilidade me causou. Eu não sou perfeito afinal. Eu sinto inveja de seu novo usuário. Ossos do ofício.
Sou só um escritor cheio de raiva.
E de amor.
E de vazio. Mas temporário.

domingo, agosto 2

O Abalo


Eu digo e repito. “Não vou me abalar por isso”. De novo, mais uma vez.
Enquanto repito como um mantra minhas mãos insistem em suar. Meu coração me desobedece e palpita como se eu estivesse lutando pela vida. Não tem nenhum pensamento que se fixe na minha cabeça por mais que um minuto, não tem nenhuma atividade que eu consiga executar sem parar para iniciar outra e então mais outra e então eu sinto aquele frio na barriga. As mãos tremulam covardes enquanto quero chorar.
“Por que tu me afetas desse jeito?”
Minha boca seca e se acovarda em te dizer que não preciso do teu meio-amor. As tuas palavras se impregnam em meus ouvidos como um sussurro duvidoso, e eu acredito porque eu te amo. Eu te amo e eu odeio te amar mais do que a mim mesmo. Eu odeio chorar por ti enquanto tu ri com outros que não eu. Eu odeio essa necessidade de ter tua aprovação, teu sorriso e teu tempo quando na verdade essas coisas não são algo que se pede. Odeio esse meu egoísmo. Eu digo e repito que não vou me afetar. Mas assim como eu sou teimoso, meu corpo se supera.