Esse é o último diário de escrita postado nesse blog. Os próximos estarão no meu Substack!
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Eu me faço essa pergunta há muito tempo. Antes, de forma mais boba e descompromissada, quando escrevia fanfics. Hoje diferente, com um certo peso nos ombros e autocrítica afiada, mas não o suficiente para cortar a névoa densa que impede que eu me veja assim.
Quando comecei a escrever o livro com a Joana, o discurso era “vamos escrever na força do ódio, por nós mesmas”. Foi a chama inicial, uma forma de conseguir um encerramento para uma história (e envolvimento) que durou uma pandemia inteira.
Então descobri as bookredes e alguma semente se plantou na minha cabeça e começou a crescer. Chamo essa mudinha de caraminhola. Conheci escritores incríveis, li mais nacionais, descobri um mundo que não fazia ideia de que existia. Para mim, fantasia nacional se resumia ao Leonel Caldela e Karen Soarele, ao pessoal da Jambô e nada mais (nem sabia que o Spohr era brasileiro!). Descobri a autopublicação, as prestadoras de serviços, os golpes e tudo mais que contempla o cenário literário atual. Era muita coisa! E eu era quase nada. Não, ainda longe de me chamar escritora.
Foi uma virada de chave me embrenhar no meio disso: eu precisava aprender sobre a parte que não envolvia sentar a bunda na cadeira e surtar com a criação em si. Edição, revisão, diagramação, capa, brindes, artes, “que marcador de páginas lindo!”, leitura beta-crítica-sensível! Ufa! Tem mais alguma leitura? A minha também, mais a da Joana… e quem vão ser os betas? Vamos criar uma lista!
Ótimo! E agora? Talvez eu precise de um curso. Não tenho nenhum ensino teórico além dos semestres de Letras que fiz um tempo atrás, vamos ver! Se eu estudar e escrever, talvez possa me chamar de escritora! E então vieram os cursos da Editora Seiva. Sem palavras para o quanto o Daniel Lameira me abriu os olhos e as portas desse mundo. Em seguida, uma graduação de Escrita Criativa — quase golpe!! — que não aceitei continuar por não estar aprendendo nada que pudesse realmente me ajudar. Eles queriam ensinar como usar IA pra criar, acredita?! Por fim caí na Metamorfose, com o curso Formação de Escritores, onde tive (e continuo tendo) contato com muitos profissionais incríveis e colegas talentosos.
Mas do Metamorfose o que mais me marcou foi uma frase do Marcelo Spalding que dizia “ser escritor é ser lido”, ou algo muito perto disso. Muito que bem.
O sentimento de ser um impostor é paralisante. Como alguém extremamente perfeccionista e apaixonado pela história que escreve, me expor sempre foi uma tarefa dolorosa, em todos os âmbitos. O melhor conselho que tirei de tudo que vi e li do professor Assis Brasil, foi o de que o autor deve “se afastar” da história. Amar demais deixa a gente cego. Mas o que eu faço se me cobro mais que tudo e sempre acho que tem algo a ser criticado e melhorado? E quando, ainda assim, amo profundamente o que crio e preciso de esforço sobre-humano pra mudar? (oi, possível neurodivergência!) Sei lá. Ainda não descobri, mas se souber estou aceitando dicas. Uma vez alguém disse, acho que foi em uma das aulas do Vida do Livro, que o autor precisa decidir parar — do contrário, o livro sempre terá algo a ser melhorado e editado. Que não existe criação perfeita. Um dia quem sabe abraço isso sem me contorcer.
Eu aprendi muito sobre o mercado editorial, estudei e li os livros mais indicados e elogiados sobre escrita, investi em cursos, escrevi muito… e ainda existe certo pânico de me dizer escritora. Que merda! Mas é um processo demorado, todo mundo diz, e eu sei disso.
Por causa dessas coisas o livro andava a passos lentos. Não só por estar procrastinando a exposição de ter um texto finalizado e pronto para ser lido, mas pelo tempo investido em cursos também. Uma bola de neve crescendo e ameaçando soterrar a criação. Foi aí que segurei a Joana pelos ombros e disse “a gente precisa de um dia fixo pra escrever”. Sem desculpas, sem cansaço, sem choro. Um dia da semana para a gente sentar juntas e escrever. Escrever, editar, debater sobre a história. Foi o santo remédio que nos fez deslanchar o manuscrito! Batemos as cinquenta mil (!) palavras!
Quem diria que sentar e escrever faria a história andar e a confiança aparecer!
Agosto escrevi 16.813 palavras. Foi um recorde pessoal e, olhando para trás, não sei por que parecia tão difícil antes. Professores e colegas estão lendo meus textos. A Joana também, quando revisa. Vez ou outra me lembro de uma amiga que sempre comenta sobre uma fanfic que fiz lá em 2018 e caraca! É um sentimento bom. (Obrigada de coração, Gabu!) Hoje, escrever se parece mais com um trabalho — ainda que prazeroso — do que com a mera vontade de provar que dava para fazer. Mais do que só um hobby no tempo que eu achava para escrever. Quero que nosso livro seja um produto bom, cheio de carinho e atento aos detalhes.
A pergunta inicial segue viva. Já posso me dizer escritora? Ainda não me sinto preparada para bater no peito e mudar meus nicks para “autora Yuri” ou “escritora Yuri” e coisas desse tipo, mas… é, eu me sinto bem mais próxima! E tá tudo bem.
Yuri Moretto
06/09/2025