sexta-feira, maio 10

Diário de Escrita 7 e desabafo

Bom dia, pessoal.

Hoje está sendo incrivelmente difícil começar esse diário. É estranho desejar bom-dia, porque sinceramente nenhum dia tem sido bom nas últimas semanas. Quem tá bem, ainda tá mal, não tem outra forma de dizer. 

Apesar de eu não ter sido diretamente afetada pela inundação, pois tenho sorte de morar em uma zona alta e segura, toda a situação é extremamente desgastante e dolorosa. Apavorante demais.
Nos primeiros dias havia muita incerteza sobre amigos desabrigados ou conhecidos desaparecidos. Animais se perdendo aos montes, familiares que perderam tudo. Como uma bola de neve foi crescendo e esmagando a gente pelo caminho. 
Ontem fui comentar que estava com frio e imediatamente me cruzou o pensamento de "tem pessoas na água ainda". (...) É impossível não me sentir afetada pela catástrofe que vem acontecendo. Durante os dias tenho vontade de chorar """sem motivo algum""", de repente. 

Ficamos sem luz por quase três dias, sem água por quase cinco. Mercados vazios. Assaltos aumentando durante o dia. Medo crescendo. E a chuva voltou. 

Todos os dias tem sirenes de um lado para o outro. O mesmo gatilho sendo ativado cada vez, a lembrança da Kiss e daquele "vácuo" que Santa Maria parecia ter se tornado, com sons abafados e ar pesado. Cada sirene me trava por segundos antes de eu conseguir voltar a raciocinar. 

No meio disso, ainda estive trabalhando 10h por dia, cobrindo o turno do meu colega que saiu em férias antes do caos começar. Ou seja: não tive a menor cabeça para escrever ou continuar com os desafios de escrita. Não vi as aulas, não senti ânimo pra nada. Fiquei enrolando fazendo pastas no pinterest ou fingindo fazer algo de útil no Notion.

O livro está atualmente com 10.609 palavras e eu percebi que tinha escrito mais de 40 páginas (A5) como primeiro capítulo. Dividi as cenas, reorganizei e arrumei algumas coisas. Um capítulo se tornou três, além do prólogo.
Desde que começou a enchente escrevi apenas 275 palavras. Me sinto frustrada. Mas parte de mim se sente mal também por reclamar disso. Eu tenho sorte de não estar de mãos vazias, tenho sorte de não ter visto minha vida ir, literalmente, por água abaixo. 

Minha cabeça segue confusa e caótica. Mas nós vamos nos reerguer. Em algum momento, temos de nos reerguer. 

Fiquem bem onde estiverem. ♡

Yuri Moretto
10/05/2024

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